segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Gerentona ruiu


A Gerentona ruiu

Dilma Rousseff foi eleita presidenta do Brasil exatamente pelo trabalho à frente do Ministério de Minas e Energias como uma gestora acima de qualquer suspeita e pela eficiência técnica e administrativa.
Eleita, a percepção foi além: no primeiro ano de governo, a vassoura comeu solta. Quando surgia uma denúncia, um ministro era fritado devidamente. A imagem de grande gestora se consolidou e a de durona, mais ainda. Os noticiários davam conta de que não era raro ministros varões saírem de suas reuniões aos prantos. Numa alusão a essa postura, ela chegou a ironizar que seria uma mulher viril cercada por homens dóceis.
Mas o senhor da razão é o tempo, já dissera o presidente filósofo, atleta, garoto-propaganda de mensagens educativas, Fernando Collor de Mello. Eis que passados dois anos e meio de mandato, a “rapadura” virou “melado”.
Em meio à onda de manifestações, toda a austeridade foi para o brejo. Começou antes, ao trazer apadrinhados de alguns ministros demitidos por denúncias de corrupção para ocupar os lugares deles. Sua idoneidade administrativa fora mais uma jogada de marketing do seu principal (não) ministro, João Santana.
No auge das manifestações, aturdida e sem saber o que fazer, a primeira medida da “Dama de Ferro” brasileira ou do primeiro poste político foi consultar o “pai” Lula. 
Como assim? Ela não fora eleita exatamente por sua capacidade de gerenciar e pela firmeza? Pois é, esses requisitos devem ter sido jogados no mesmo buraco no qual fincaram o poste. Os números da sua gestão já são conhecidos, como inflação alta, o “pibão” mais “pibinho” do mundo, ministérios a rodo, gastos com criação de tribunais e construção de estádios e por aí vai.
Mais do que demonstrar fraqueza, a presidenta herdou alguns hábitos da administração anterior. A cada hora que surgem irregularidades na administração pública, ela se manifesta como uma cidadã comum, como recentemente ficou indignada ao saber da farra com aviões da Força Aérea Nacional - FAB. “Isso não pode ficar assim”, disse. Parecia que eram as primeiras viagens dos fanfarristas com o dinheiro da viúva. Como sempre no Brasil, a presidenta só ficou sabendo depois de a imprensa divulgar.
Ora, ora, não precisa ser técnico em aviação para saber que as despesas com essas aeronaves são altíssimas e que deveriam ser utilizadas em situações muito peculiares de emergência para ajudar à população, em algo que trouxesse benefícios gerais, como na catástrofe – natural da gestão pública brasileira – de Petrópolis; talvez numa missão de médicos e agentes de saúde voluntários na Amazônia. Nunca para casamentos, partidas de futebol e outras missões de chefe de estado como as mencionadas. Leis, decretos, portarias, resoluções, qualquer norma que desse amparo à utilização para esses passeios seria inconstitucional, por não atender à finalidade pública.
Por coerência, aviso que poste não anda. Portanto, que seu presidente de fato vá até Brasília. Não sou da imprensa, mas vou arriscar avisar-lhe que marqueteiro não funciona para manifestantes; e também dizer-lhe da minha decepção por constatar que é fácil ser “dama de ferro” apenas para os subalternos.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mídia será alvo das manifestações

Mídia será alvo das manifestações
Alguns segmentos sociais precisam entrar em consonância com a sociedade brasileira. Um desses é a mídia brasileira, em especial os canais de televisão aberta.
Na cobertura das manifestações era claro o viés para desmoralizá-las, quando tratava de forma generalizada como vândalos, baderneiros e depredadores, cujos adjetivos visavam enfraquecer os movimentos. Outro posicionamento que deixava isso muito claro era responsabilizarem os manifestantes pelo início dos incidentes contra a Polícia Militar.
Essa cobertura tendenciosa continua com as tais respostas das autoridades às reivindicações. As matérias são sempre narrativas, sem qualquer análise técnica para comprovar a viabilidade dos delírios das autoridades.
Quando o Supremo Tribunal Federal – STF mandou prender o deputado Natan Donadon, ninguém se dignou a questionar o relator ou presidente da Corte por que a prisão só ocorreu três anos depois da condenação e logo após a insurgência nacional. Além disso, nenhuma pesquisa é feita para averiguar os muitos processos contra parlamentares que continuam mofando nos escaninhos dos tribunais brasileiros.
Mesmo conclamando por melhor qualidade na saúde e educação e maior segurança, a resposta federal girou em torno da reforma política. Todos aceitaram como se fosse algo sério e não disseram uma vírgula no que isso melhoraria nessas áreas. Também não se compreende por qual motivo não há uma menção à extinção do voto obrigatório. Não há questionamento sobre o fato das medidas só trazerem resultados para prazo longínquo, quando a necessidade é para ontem. Nada, absolutamente nada, está sendo feito para melhorar essas três maiores reivindicações imediatamente. O resultado mais próximo seria o trabalho compulsório por dois anos para os alunos de medicina que ingressarem a partir de 2015 nas faculdades. Ou seja, no mínimo teria início em seis anos. Até lá milhares já morreram sem atendimento nas filas.
A cereja desse bolo de embromação foi a aprovação de uma emenda constitucional para a retirada do segundo suplente de senador. Não há registro na história de que um segundo suplente tenha ocupada a vaga de senador, já que para isso teria que saírem o titular e o primeiro suplente. Mas essa enganação conseguiu até manchete de primeira página do jornal O Estado de S. Paulo sobre a retirada do segundo suplente, que, numa análise séria, traz zero de benefício à população.
Muitos apresentadores de televisão instigam a violência policial. José Luiz Datena, um verdadeiro camaleão nas suas posições, lidera com a frase matreira de que a “cobra vai fumar”, numa alusão explícita à truculência policial. Quando vier a revanche, eles não vão se lembrar do telhado de vidro. Assim como os políticos, a mídia, liderada pela Rede Globo, está atravessada na garganta da sociedade brasileira. Nas manifestações anteriores muitos jornalistas já foram hostilizados, e se a mídia não encontrar o rumo certo de fazer jornalismo, a “cobra vai fumar” nos próximos protestos.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Resultados das manifestações

Analistas das manifestações devem estar muito tristes pelos resultados obtidos até aqui. Com críticas genéricas chamavam a todos de vândalos. Os próprios manifestantes mostraram que os baderneiros nada tinham a ver com o Movimento, embora seja simplório achar que todos os participantes das depredações sejam profissionais. A maioria é formada de pessoas comuns atiçadas pela oportunidade de certa vingança aos maus-tratos sofridos pelas autoridades.
Mas o questionamento da falta de foco não serve mais. O movimento conseguiu reduzir o preço das passagens, até em cidades que não tinham aumentado. Um deputado condenado há três anos foi para a cadeia, o projeto da “cura-gay” foi arquivado; uma proposta para tornar o voto aberto no Congresso já foi aprovada em Comissões, desistiram de aumentar pedágio em São Paulo e até um helicóptero foi vendido indevidamente, já que deveria ser repassado para a Polícia Militar.
Mesmo de forma açodada, a presidenta propôs a realização de um plebiscito sobre a reforma política. Ainda que não seja de sua competência, vale apenas pela iniciativa, já que os pontos apresentados são de interesse exclusivo dela ou do Partido dos Trabalhadores.
Qualquer proposta séria de reforma política, seja por qualquer meio, tem que trazer em primeiro lugar a extinção do voto obrigatório. É normal a estratégia matreira das nossas autoridades em não tocar nesse assunto. O silêncio da imprensa, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dos sindicatos e das instituições em geral é absurdamente incompreensível. O Brasil será o último país a acabar com a obrigatoriedade do voto, como foi com a Escravidão.
Neste momento se faz necessário uma definição de uma tática. Primeiro, especificar alguns pontos e trazer o povo para a rua para conquistá-los. Essa pauta precisa ter especificações de preferências e prazos. Algumas de caráter geral. Por exemplo, acabar com os recessos da Justiça e com julgamentos que ultrapassam décadas, é inconcebível que o Poder Judiciário seja paralisado nos meses de janeiro e julho, uma vez que todos os magistrados têm férias regulares. Extinguir as aposentadorias privilegiadas de parlamentares e todas as mordomias que consomem milhões dos brasileiros, inclusive os voos dos aviões da FAB para cima e para abaixo com chefe de Poder até para casamentos e aniversários das filhinhas dos seus colegas.
No entanto, o ganho maior da população foi a percepção de que as autoridades são alcançáveis pelo povo. Com alguns exageros, quando querem mudanças municipais ocupam as câmaras de vereadores; se estaduais, as assembleias legislativas são tomadas e batem às portas da Câmara dos Deputados e do Palácio do Planalto quando as reivindicações são de âmbito federal. O povo provou e aprovou sua força.
Os passeios em aviões da FAB pelos presidentes da Câmara e do Senado, do ministro Garibaldi Alves e até de Joaquim Barbosa provaram que as autoridades viciadas em mordomias vão continuar testando se foi um lampejo de movimento ou se foi pra valer. Esses aviões deveriam ser para missões muito importantes e raras, não como transporte de casa para o trabalho.
Já a grande manifestação deve ser planejada para o próximo Sete de Setembro. Será o “Dia D” para a proclamação de uma nova Independência, talvez mais efetiva do que a primeira.
Pedro Cardoso da Costa 
Interlagos/SP
    Bacharel em direito

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Semana da nossa história

A Semana da nossa história

São tantos acontecimentos nestas últimas semanas de manifestações que fica difícil saber focar um texto, por isso pensar em definir um objetivo específico de reivindicação se torna impossível.
Para começo, fica claro que nossas autoridades de ponta a ponta deste gigante, ex-adormecido, falam com o raciocínio de um papagaio. Iniciou-se com o governador Geraldo Alckmin chamando o movimento de um pequeno grupo político. O prefeito de São Paulo disse que era para aumentar a tarifa de ônibus desde janeiro e que só aumentou o equivalente à metade da inflação do período. E a presidenta corou o grunhido da ave com um festival de campanhas petistas, um modo de governar que não engana mais ninguém.
Ela prometeu uma reforma constitucional restrita num dia e no outro já não tinha dito nada daquilo. Assegurou que não tinha um centavo do dinheiro público nessa derrama para a FIFA e na construção de estádios para entregar de mão beijada aos empresários depois, quando o grande volume sai dos cofres da viúva.
Tudo isso seria normal se não tivesse surgido o pequeno grupo de milhões que foi às ruas e continua indo diariamente país afora. Apesar do recado a todos, a mídia continua com seu jeito brasileiro de cobrir os fatos e encobrir as maracutaias dos governos. Antes, só alguns berravam sobre o dinheiro jorrado, agora todos afirmam que haviam dito tudo sobre os rios de dinheiro jogado no colo da FIFA e de empresários. A parte chapa-branca liderada pela Rede Globo e pelo ensandecido Galvão Bueno ignora as manifestações e coloca as Copas como o bem maior do Brasil em todos os tempos.
Mas numa coisa existe unanimidade: nenhum órgão de imprensa reproduz a fala de autoridades, quando elas dizem uma coisa num instante e logo depois se desdiz. Seria relevante descobrir o preço que faz emudecer como mais item na pauta das reivindicações.
Também é patente que há um Brasil de ativistas de facebook. Nessa rede, eles criticam os não politizados, dizem como fazer, e não levantam o traseiro da cadeira, defendem as truculências policiais contra os baderneiros que quebram alguns vitrais, mas admiram aqueles que deixaram o Brasil neste caos.
Sou contra o quebra-quebra, mas não tenho alternativas para ações que tragam resultados. Nada seria mudado se as autoridades tivessem certeza prévia de que as reivindicações ficariam restritas às orações e cânticos de hinos.
Pequenas conquistas já se concretizaram; quinhentos anos na maior semana da cidadania brasileira, de 16 a 23 de junho de 2013. Mas as manifestações não podem arrefecer. Foi determinada a prisão de um deputado condenado há três anos que continuava livre, leve e solto. Mas sua fuga para algum “Paraguai” já pode ter acontecido previamente. Sobre as conquistas, escreverei na próxima semana. A abertura da caixa preta do Judiciário brasileiro, com a prisão dos mensaleiros num prazo menor do que três anos precisa entrar na pauta dos próximos eventos.
Estão simplificando demais em chamar de vândalos “profissionais” todos aqueles que vão para o quebra-quebra. Ninguém dá a outra face a quem lhe dá um tapa na cara. E meu cartaz para as próximas manifestações já está pronto: “Lula pediu, eu atendi. Tirei a bunda do sofá e tô aqui”.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito