quinta-feira, 20 de agosto de 2015

País de pedintes

País de pedintes
Todos os dias somos abordados nas ruas, nos ônibus e até em nossas casas por pessoas com folhetos, listas e outros meios para pedirem ajuda, especialmente para comprar comida e remédios, mas também com alegações das mais variadas e inimagináveis. Ajuda aos favelados, aos vizinhos em dificuldade e aos empregados domésticos são as mais comuns, além dos meninos de rua e outras mil e uma entidades de proteção a menores desamparados. Tornou-se rotina o que seria para ocorrer esporadicamente. Hoje não se faz um percurso de ônibus, independente da distância, sem a presença de dois ou três pedintes. Os ex-dependentes de drogas ajudando as casas que lhes salvaram estão na crista da onda.
A hipocrisia da sociedade sustenta essa conduta viciada. Erro não há em pedir ou em dar. Mas se deve tomar muito cuidado. Pedidos dessa natureza deveriam acontecer somente em casos excepcionais. Pede-se “porque seria melhor do que roubar”. Esse quadro reverter-se-á quando não tiverem vergonha de trabalhar, por mais humilde que seja o serviço. O “caridoso” também deve exigir alguma retribuição e nunca entregar o pão fácil, especialmente em dinheiro. O país da caridade excessiva é o mesmo da miséria absoluta. Esses itens, somados às religiões, contribuem para a manutenção desse espírito de solidariedade que sustenta a pobreza como virtude humana.
Devido à amplitude do tema e ao pequeno espaço, o enfoque se restringe a alertar a população dos cuidados que devem ser tomados com o objetivo de evitar que esse benefício não se torne um mecanismo de vida fácil. Pedir é difícil enquanto não é meio de vida. Depois, falar em trabalhar para quem se acostumou a pedir é incorrer em sério risco de ser agredido física ou verbalmente.
Recentemente, devido ao Ipobe - e miséria é campeoníssima nisso – algumas emissoras de TV vêm incentivando e fomentando essa prática de pedir a qualquer custo como o único meio de solucionar problemas financeiros individuais. Antes, por meio de jogatina dos tele-900, disfarçada de amparo assistencial às casas beneficentes e de outras atividades sociais, e hoje com programas meramente assistencialistas apenas para aumentar a audiência.
A função que seria das instituições públicas passou à sociedade, que dia a dia sente-se mais responsável pela substituição do papel das autoridades administrativas. Ora, ao contrário de darem certas soluções momentâneas e paliativas, todos deveriam unir-se para cobrar daqueles que têm a obrigação e o dever de solucionarem os problemas. Com as melhores das intenções em ajudar, essa gente contribui para isentar os administradores de suas responsabilidades. Estes, como regra, vivem a dizer que são o reflexo da sociedade.
Apesar de ingênua, as ações sociais da população ainda são melhores do que as medidas oficiais utilizadas apenas para enganar o povo.
Brasileiramente, somos campeões em resolver um problema criando outro maior. Esse assistencialismo gratuito e vulgar gera chefe de grupo de crianças pedintes e “pais adotivos” de toda sorte. Essa jogatina deve ser substituída apenas por uma linha de atuação mais independente e corajosa das emissoras. E acabar com esse faz de conta. As pessoas, em lugar de choramingar alguns gramas de comida, deveriam se organizar mais para protestar, buscando uma solução definitiva para a fome. Embora contra a vontade de muitos exploradores da miséria, basta luta e responsabilidade para acabar com essa fome institucionalizada que existe no Brasil.
Problemas sociais se resolvem com projetos e trabalho, muito trabalho.

Pedro Cardoso da Costa - Interlagos/SP
    Bacharel em direito          

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O brasileiro nunca desiste


O brasileiro nunca desiste
Nos jogos de futebol sempre aparece o gritinho, repetidas vezes, de “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...” Até emociona, mas a cidadania brasileira fica restrita aos estádios.
Precisaria ser mais objetivo para ir além do futebol e alcançar ações coletivas do dia a dia. Reforça essa tese a colocação esperta de que “o brasileiro não desiste nunca”. Isso serve para deixá-los contentes e sugarem-nos acomodados, com aumento de impostos constantemente para benesses daqueles que fazem essa apologia.
Com relação à frase em si, seria importante saber por que há o orgulho em ser brasileiro. Poderia ser por ter um país com distribuição de renda justa, sem disparidades galácticas entre ricos e pobres.
Poderia ser por viver num país onde se curasse uma dor com facilidade. Todo dia as notícias dão conta de pessoas morrendo nas filas de postos de saúde e hospitais, sem qualquer atendimento. O ápice nessa questão são pessoas com câncer sem os medicamentos e sem aparelhos para diagnosticar a doença.
Poderia ser por viver num país tranquilo – o que é apregoado pela mídia de modo geral, mas aqui morrem assassinados mais de 50 mil a cada ano.  E esses números não diminuem. Não existe estatística aceitável, mas se aceite um quinto disso, ainda assim, seriam mais de 10 mil, público maior do que centenas de partidas de futebol nos campeonatos nacionais.
Poderia ser por ter um povo bem educado formal e de comportamento. Hoje, o dinheiro mais desperdiçado neste país é o investido na educação, porque nem ninguém está ensinando e ninguém está aprendendo nada. Os ensinos fundamental e médio no Brasil são um horror!
Poderia ser o esporte a razão de tanto orgulho. Em todos os tempos de Olimpíadas temos poucas medalhas de ouro a mais do que o americano Michael Phelps sozinho.  No Pan Americano que se realiza no Canadá o Brasil tem um feito esplendoroso. Verdadeiro. Mas são esplendorosos com relação aos nossos resultados anteriores. Só que os índices que nos deram mais de uma centena de medalhas nos dariam duas em Olimpíadas.
Sobram os políticos. Ah, sobre eles apenas dizer que o povo vem reagindo. O ex-ministro Guido Mantega não consegue mais ir a locais públicos. A mídia sempre o defende e ataca quem o hostiliza. Sempre muito suspeitas algumas defesas da mídia nacional.  Mas, se podem ser aplaudidos quando deixam o povo satisfeito, a recíproca pode – e deve – ser proporcional.
Por enquanto, o orgulho fica adstrito aos clichês futebolísticos. O amor é subjetivo, e a Síndrome de Estocolmo pode explicar essa paixão por nós mesmos. Tudo bem quanto a não desistir nunca, mas é preciso transformar clichês em ações, duras, constantes e solidárias.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito


Reação do Congresso à Lava-Jato





Reação do Congresso à Lava-Jato
Se tivessem dez lava-jatos em vez de uma, o Brasil sofreria uma transformação significativa. Se “Sérgios Moros” fossem regra e não exceção, não haveria tanta corrupção. Mas a sociedade brasileira tem de se contentar com essas exceções, que geralmente saem de cena por conta da pressão que sofrem da estrutura apodrecida de governo e até de Estado.
Depois de Joaquim Barbosa, à frente do Mensalão, ter conseguido mostrar que a lei alcança a todos, a Lava-Jato vem fazendo estrago e assustando muita gente grande, haja vista a corrida por “habeas corpus” preventivos. Apesar de séculos de Judiciário, isso só ocorreu com a firme atuação do ministro, seguido por alguns, com algumas vaciladas de outros colegas.
Joaquim Barbosa demarcou a separação de um Brasil da impunidade daquele em que a justiça funcionou, um país onde o Poder Judiciário existe de fato.  Sérgio Moro ajudará a consolidar a desfazer a percepção de que alguns estão acima da lei.
Foi o que ocorreu com a apreensão dos bens do senador – senador! – Fernando Collor de Mello e de outros. O Congresso reagiu de forma veemente à ação da Polícia Federal, a verdadeira FBI brasileira.
Toda a imprensa deu destaque à força da reação, mas nenhum veículo mencionou ou contrastou se os argumentos tinham consistência ou sustentação jurídica. Trata-se de puro desespero.
O presidente do Senado, reincidente em situações complicadas, como o passeio de avião oficial em casamento em casamento de amigos, ameaçou processar os agentes federais, sob a alegação de que precisariam ser acompanhados pela Polícia Legislativa. Ora, eles cumpriram uma ordem do Supremo Tribunal Federal, o órgão responsável pelo mandamento.
Caso a previsão de acompanhamento esteja em Regimento Interno ou outra norma infraconstitucional nem se discute que a ordem do Supremo está acima e dispensa obediência a regras subalternas. Se essa previsão também for constitucional, aí poderia haver dúvida, que seria resolvida com a decisão de qual interesse prevalece, se o dos bens de alguns senadores, com indícios de aquisição com dinheiro público ou o ressarcimento desse valor aos legítimos donos.
Resumindo: só no Brasil se coloca em discussão a prevalência de interesse entre três senadores em razão de filigranas procedimentais ou o de duzentos milhões de cidadãos.
Essa gente não se dá conta de que o fato de a popularidade da presidenta está na lona não coloca as casas legislativas em céu de brigadeiro.
E para não dizer que não falei das flores: que negócio estranho esse encontro, lá em Portugal, entre a presidenta da República, com o presidente do Poder Judiciário. E ainda têm uns caras-de-pau tentando explicar o que não tem explicação. Pobre ética pública!

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
     Bacharel em direito