segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Dia do olho roxo

Dia do olho roxo
Parece daquelas brincadeiras de mau gosto, mas não é. Trata-se de definição de uma delegacia da mulher fazendo referência à segunda-feira, dia de maior incidência de espancamento de mulheres pelos companheiros, maridos, amantes e namorados.
No parágrafo anterior foi dito por ser colocado como se fosse uma coisa normal do cotidiano. Trata-se de uma tragédia. Quem espanca qualquer pessoa comete crime, e quem comete crime deve ser punido. Toda discussão correta tem que começar deste ponto. De outra forma é distorção.
Quando a decantada lei Maria da Penha foi aprovada como solução da violência contra mulheres, discordei e mencionei em artigo a resalva de que se tratava de lei mais benéfica do que o Código Penal. E lei penal mais benéfica em vigor deve prevalecer sobre outra mais severa. A lei especifica a pena mínima de três meses. O Código Penal prevê dois anos, quando a agressão causa deformidade permanente (art. 129, § 2º, IV).
Mulheres com partes queimadas do corpo, com pedaços arrancados ou com imensas cicatrizes são o que se vê todo dia na televisão e nas delegacias. Alguém precisa explicar se há diferença da deformidade da mulher espancada pelo companheiro de outra causada por um estranho. Deve causar um sofrimento maior pela proximidade existente em razão do amor recíproco.
Além disso, vários outros artigos podem ser aplicados. No meio de tanta violência pode haver tipicidade de vários crimes num só ato, como cárcere privado, extorsão de bens, abortos provocados em decorrência das agressões, abuso do pátrio poder. A esmagadora maioria poderia ser tipificada como tentativa de homicídio, já que muitas mortes não se concretizam por interferência de terceiros.
Essas agressões ocorrem principalmente para calarem as mulheres sobre condutas reprováveis como traição, namoro, bebedeiras, jogos e outras incompatíveis com a vida conjugal. Também se deve ressaltar que o agressor masculino se aproveita de sua condição física maior do que a da parceira.
Em grande parte são covardes incapazes de levantar a voz contra outros de seu porte e descarregam suas frustrações sobre aquelas a quem deveriam proteger.
Deixar a defesa por conta das próprias vítimas é não querer enfrentar o problema como se deve. É simplificar demais. As mulheres sofrem primeiro o domínio psíquico e, por isso, perdem as forças para se defenderem sozinhas.
Há algum tempo houve noticiário de agressão do ator Kadu Moliterno à esposa. A rede Globo, ao menos, poderia ter expedido um manifesto de repúdio e tornar pública alguma punição profissional ao ator. Essa permissividade  ajuda a passar a ideia de que alguns podem agredir sem punição. E não vale a máxima de que o pessoal é separado do profissional. Nesses casos, não é, nem deveria ser, pois os atores são imitados e o comedimento vem em função de possíveis exemplos de punição.
Todos os órgãos públicos, o Ministério Público, a sociedade em geral, as instituições de voluntários precisam se unir para criar mecanismos efetivos de defesa às vítimas.
Já as mulheres precisam tomar a iniciativa de sua própria defesa, já que são elas que sofrem as torturas. Só colocar letras em papel, chame-se isso de lei, nada resolve, conforme comprovado pelo aumento de assassinatos de mulheres pelos companheiros.
Não há número de violência aceitável, mas continuar com uma a cada três mulheres sendo agredida pelos companheiros é uma deformidade social.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Liberdade para suicidar

Liberdade para suicidar
De início, como óbvio já cabe afirmar que se trata de assunto por demais complexo e, portanto, de opiniões bastante divididas. E, também, segundo alguns autores, o termo é só suicidar, pois não se suicida outra pessoa, suicídio é sempre sobre si.
Recentemente voltou à tona devido à iniciativa da americana Brittany Maynard de praticar o suicídio assistido, em função de estar com câncer no cérebro e com prognóstico médico de poucos dias de vida.
De um lado os defensores de uma visão, mais fundamentada na religião, de que a Deus pertence o direito de “dar e de tirar a vida”. De outro, os materialistas, que acham que a vida é dela e cada um faz o que quer da sua vida, mesmo o de se desfazer dela.
Nas redes sociais e na Internet em geral há uma verdadeira enxurrada de ofensas dos dois lados. Uns a chamam de orgulhosa e decretam que ela queimará no fogo eternamente por ter praticado ato tão tenebroso. Do outro lado, os ataques à igreja por defender de maneira tão veemente o direito absoluto à vida, mas, em passado não tão remoto ter ceifado inúmeras. Citam as mais famosas, a Inquisição e a omissão no caso do Holocausto, e até outros erros, como o de pedofilia, sempre acobertados pelas instâncias superiores.
Tem o chamado livre arbítrio que deve ser considerado. Ela teve um diagnóstico de morte, em alguns dias, debateu com familiares e tomou a decisão de praticar o chamado suicídio assistido. A família acatou, numa demonstração de total respeito ao direito do outro. Era decidir sobre a vida com um final sem dor – pois também é digno morrer com sofrimento - a prolongá-la causando a si um sofrimento físico terrível,  e psicológico aos seus parentes e amigos.
Até se mudou para o estado de Oregon nos Estados Unidos, já que em vários estados esse procedimento não é permitido. No Brasil, por mais que a pessoa pretendesse, não haveria essa possibilidade. O Código Penal de 1940 prevê: “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça”. A pena seria de até seis anos em caso de consumação. No Brasil, todo ano, mais de 50 mil pessoas são assassinadas sem direito a nenhuma escolha.
Não parece razoável colocar o debate idêntico a um Fla-Flu. Trata-se de uma decisão sobre um final dramático, com diferença apenas na duração e no sofrimento.
As frases atribuídas a Brittany Maynard passam uma impressão de que são naturais, ou até com uma certa euforia, festejo, mas com certeza é apenas aparência, pois elas escondem um sofrimento profundo e se há alguma euforia é decorrente da certeza de uma escolha dramática. Não é uma escolha sobre um lugar para passear, uma roupa para vestir ou sobre o uso de uma joia, é uma escolha entre morrer agora, com menos sofrimento ou depois em extrema agonia.
Ela não escolheu tirar a vida, essa perda já estava sacramentada de qualquer jeito, optou por uma forma de morrer. E ninguém, nem religião nem Estado tem mais direito sobre a vida de alguém do que a própria pessoa.
Uma decisão como essa só requer respeito de quem tem bom senso e respeita o livre arbítrio do outro.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

sábado, 18 de outubro de 2014

Para presidente: um leviano ou mentiroso


                 Tornou-se consenso pelo país de que o eleitor é responsável pelos políticos que fazem trapaças com dinheiro público por ser ele quem “faz o político”.
Sempre ao se aproximar das eleições, começa um bombardeio de propaganda e vinhetas com o objetivo de cobrar do eleitor o exercício da cidadania por meio do chamado voto consciente. Até da Justiça Eleitoral aparecem mensagens reiteradas no mesmo sentido que, definitivamente, extrapola seu papel institucional.
Nesse aspecto da cidadania ninguém diz que o cidadão deveria participar antes para influenciar numa boa escolha dentro dos partidos.
A escolha de candidatos é feita por dois os três dirigentes dos partidos. Todos, indistintamente, agem assim. Selecionam seus fanfarrões por considerarem puxadores de voto. São ex-famosos do esporte, da música, das bizarrices da televisão, até as vítimas de violência de caso de grande repercussão.
Não existe nenhuma correlação entre o que o candidato fez na carreira com sua posição política. Por exemplo, qual fora a posição de Marcelinho Carioca e de uma mulher-fruta com relação ao impeachment de Collor? Não se sabe nada sobre a posição deles sobre o voto  obrigatório e a diminuição da maioridade penal; enfim, sobre nada, simplesmente porque eles nunca deram uma opinião. Parece fazer parte dessas atividades não opinar sobre nada.
Depois dessa leva de anencéfalos ser escolhida, aí lhes atribuem a responsabilidade pela qualidade de quem você vai ficar lá em cima.
Alguns defendem que a propaganda eleitoral e os debates existem para os candidatos mostrarem suas propostas e programas de governo no percurso até a eleição. Pelo contrário: essas propagandas tornam-se um festival de acusações, ofensas e baixaria.
Nessas eleições de 2014, Marina Silva foi a vítima do primeiro turno e agora os dois candidatos à Presidência da República sobem num estúdio como se estivesse subindo num ringue.
No primeiro debate do segundo turno, na TV Bandeirantes, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) extrapolaram na baixeza e ambos chamaram um ao outro de leviano. Aécio terceirizava ao afirmar que era o governo. Dilma o chamava diretamente. Isso carimbou meu voto nulo.
Todos os candidatos dizem que seus governos darão prioridade à saúde, à educação, à segurança, à diminuição de impostos; aos aeroportos, portos, ferrovias e às estradas; ao salário, aos bolsas-tudo; às creches, aos jovens, às crianças, aos adultos e idosos. Só se esquecem do significado de que a prioridade de uma coisa em função de outras. Esquecem até da velha máxima de “quem prioriza tudo, não prioriza nada”.
Pelos insultos na TV Bandeirantes, conclui-se que a partir de 2015 ou o Brasil será governado por um leviano ou por um mentiroso. Anular torna meu voto mais condizente do que colocar uma figura com esse perfil na Presidência da República. E não vou mais assistir às acusações recíprocas com ou sem o nome de debate.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
                        Bacharel em direito

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um país sui generis


Certa vez, numa reunião de trabalho, sugeri que formulários para requerimentos do eleitor à Justiça Eleitoral fossem disponibilizados nas livrarias, bancas de jornal, como eram os de registro geral – RG e de cadastro de pessoa física – CPF. Quase fui linchado, pois se tratava de algo inimaginável à época, devido à alegada falta de segurança que esse procedimento geraria.
Hoje, o próprio título sai impresso e com assinatura já no próprio sistema. Há a incoerência ainda de se fazer todo o processo eletrônico e imprimir o requerimento no final. Atualmente existe resistência semelhante com relação ao processo eletrônico nas diversas justiças brasileiras. Um dia se chegará à conclusão que riscos existem e devem ser enfrentados, e todo o processo eleitoral, incluindo a votação que, mesmo que mais tarde do que deveria, será inevitavelmente realizado pela internet.
O que faz levar à conclusão de que este país é mesmo uma tremenda salada de frutas em alguns fatores administrativos, especialmente quanto à burocracia, difíceis de quaisquer explicações logicamente plausíveis.
Já temos até tradição. Nos anos oitenta, a burocracia era tão grande que o governo federal chegou a criar o Ministério da Desburocratização, que teve duração de sete anos, de 1979 a 1986.
Mais recente, houve uma grita geral quanto à nomeação de José Antonio Dias Toffoli para ministro do Supremo Tribunal Federal porque ele teria sido reprovado em dois ou três concursos para juiz de primeira instância. O defendi na época sob o argumento da capacidade de progressão das pessoas. Uma defesa somente em teoria, já que é difícil de conceber que alguém não seja capacitado a ser juiz de primeira instância e se tornar juiz da mais alta corte do país.
No dia 2 de outubro de 2014, o próprio Supremo Tribunal Federal decidiu, com base na Constituição Federal vigente há 26 anos, que nenhum servidor público pode receber salário acima do teto constitucional. Com tantas instituições de fiscalização, jurídicas, de departamentos de controles internos e ninguém foi capaz de evitar essa sangria institucional de pagamentos indevidos. Ainda assim, o STF manteve a tradição jurídica de não obrigar a devolução por quem recebeu irregularmente. Não se sabe se a argumentação foi a de sempre, de que o servidor recebeu de boa-fé, que só funciona em favor dos servidores, já que as diversas instituições públicas também pagaram pelo mesmo princípio e muitas vezes obrigadas por decisões judiciais.
Existem outras incoerências, como os funcionários da Justiça Eleitoral, mesmo os de serviço meramente burocrático, não poderem se candidatar a cargo eletivo; os próprios ministros de o Supremo serem indicados pelo presidente da República, sabendo-se que eles serão os julgadores do responsável pelas suas nomeações; um candidato eleger vários outros, como sempre acontece, quando outros não são eleitos mesmo obtendo muito mais votos.
Na cidade catarinense de Rio dos Cedros, a suplente Gilmara Elisa Ricardo tomou posse como vereadora sem ter tido nenhum voto. Na eleição em que concorrera ela teria votado no marido. Não há dúvida de que se trata de cargo de representação do povo, o que gera a dúvida a quem ela estaria representando. Outra coisa inexplicável é a presidente da República não precisar se afastar para concorrer à reeleição, o que teria que fazer caso se candidatasse a vereadora.
Para fechar, o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários disse na Folha de S.Paulo do dia 6 de outubro de 2014 que para liberar um navio para funcionar há a necessidade de aprovação por 26 órgãos fiscalizadores e de 935 documentos. O quê que há meu país?
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Faculdades virtuais

Faculdades virtuais
Esta discussão é daquelas que envolve a todos e cada um tem uma posição a defender, como em quase tudo, baseada no interesse próprio mais imediato.
Os críticos fervorosos entendem que ninguém é capaz de assimilar conteúdos meramente descritivos apenas pela leitura, pesquisas, buscas e experimentos práticos só pela internet. Para esse perfil, o aluno só aprende se levar duas horas num transporte caótico, ficar quatro horas sentado numa cadeira, anotando os apontamentos expostos numa lousa ou quadro negro, como preferem os mais saudosos.
Não consideram nem que a presença física de um professor, geralmente um semideus na matéria, pode inibir e bloquear o entendimento mais do que a leitura isolada, como permite o computador, com debate com outros alunos no mesmo nível e com as mesmas dificuldades.
Na exposição presencial, o professor cita as várias versões e conclui com a posição que ele defende ou adere, aquela seguida pela maioria, a mais correta, a mais precisa, a mais técnica, a mais eficiente, a mais justa. A mais, a mais, a mais...
Desconsideram até que atualmente há recursos audiovisuais nos quais o aluno pode repetir o assunto que tenha dúvida reiteradas vezes, sem atrapalhar outros como ocorre numa classe com vários colegas. Pode ser acrescido de gráfico, de vídeo de casos práticos, sem dúvida com ampla vantagem, pois ali ele está só, com concentração total.
Na aula presencial, o aluno depende do tempo do professor, quando o aluno perde ou chega atrasado numa aula, perde a matéria do dia, fica atrasado com relação aos demais colegas e o professor não dispõe de tempo para dar exclusividade ao aluno que possibilite se recuperar.
No estudo pela internet, por conta própria, tudo que foi dito se inverte. O tempo é o do aluno, ele consolida seu próprio conceito a partir da comparação entre os autores, não sofre constrangimento nas suas exposições.
Por tudo isso, é incompreensível que seja tão tímida a disponibilização de cursos, mesmo privados, pela rede mundial de computadores.
O governo federal, os estaduais e até os municipais deveriam criar sites de faculdades gratuitas para todos os cursos, sem limite de acesso e disponível a todos. Caso não seja possível, ao menos que a limitação seja na casa dos milhões permitindo que aqueles que queiram estudar o façam de onde tiver um computador. A avaliação para atestar o conhecimento ficaria a critério dos órgãos oficiais. Pelo grau de rejeição, no início, poderia ser presencial, já que a sociedade mundial tem necessidade de reconhecimento e aferição.
Todo conhecimento deveria ser o mais difundido possível. Nos letreiros de rodoviária, de metrôs, de trens, em outdoors, em panfletos, enfim, em tudo que possa repassar uma mensagem educativa.

Pedro Cardoso da costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Políticos literalmente no lixo

Políticos literalmente no lixo
No dia 16 de setembro de 2014, os telejornais mostraram um deputado sendo jogado numa caçamba de lixo por manifestantes na Ucrânia.
Isso ocorreu com o deputado de oposição “Vitaly Zhuravsky, um ex-membro do partido do presidente deposto Viktor Yanukovich,” antes de uma sessão no Parlamento ucraniano que aprovou um acordo entre a Ucrânia e a União Europeia e leis que davam tratamento especial a regiões controladas pelos separatistas, segundo descrição no sítio do G1 na internet, não ficou claro o motivo exato de tanta revolta.
Metaforicamente, nas conversas de boteco, entre amigos, colegas de trabalho, o brasileiro tem um desprezo aos políticos similar ao dado ao lixo. Mas ainda não tiveram situações literais como a ocorrida no país europeu.
Daqui por diante, os nossos representantes devem tomar cuidado de não se aproximarem de nenhum movimento popular onde existam as tais caçambas por perto, pois com o humor que a população anda e, pelo gosto com que se copiam as iniciativas alheias, não terão coletores suficientes.
Venho reiterando que os nossos parlamentares, executivos e gestores em geral deveriam utilizar uma linguagem, senão condizente, ao menos que se aproxime da realidade vivida.
No campo da saúde nada pode ser mais grave do que uma pessoa morrer num chão de hospital, sem socorro. Essa cena de tão repetida já nem choca mais a ninguém.
Na área da segurança pública, autoridades e formadores de opinião governistas costumam linchar os manifestantes por conta de algumas vidraças de banco quebradas, mas, até agora continuam voando agências inteiras pelos ares.
Responde-se com maquiagem de números e sonegação das quantias levadas. São as únicas iniciativas. O resultado é não haver mais lugar para se sacar uma mísera quantia depois das 20 horas. Os caixas 24 horas estão sumindo. Os ladrões e os roubos aumentando.
Assim, o ensino piorou em quase vinte estados, as estradas vão de mal a pior, somem as verbas para a construção de casas para vítimas de enchentes, os pichadores detonam as cidades por inteiro, as mordomias dos políticos continuam, temos os deputados mais caros do mundo.
Com tudo isso, quando a pessoa tem paciência para assistir a alguns minutos de horário eleitoral, só se ouve os candidatos à reeleição falar que nunca antes houve administrações melhores do que as atuais.
Não faltam recados de que a população está totalmente divorciada da classe política em geral, sem distinguir nem as boas exceções.
As constantes ocupações de prédios desocupados e de terrenos com queima de ônibus são provas incontestes de que passou da hora de nossos políticos tornarem a linguagem compatível com a realidade. Se não fizerem por bem, serão forçados a fazer e, neste momento, talvez torçam para serem apenas jogados numa caçamba de lixo.
Afinal, se mantiverem essa linguagem em descompasso com os fatos e às evidências é porque acham a população idiota ou sem discernimento e pagarão caro por isso.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Programas de governo

Programas de governo

Não podemos ser indelicados para dizer logo no título que não é lá “grande coisa”. Mas alguém precisa dizer, já que os analistas políticos e os jornalistas não falam com precisão e firmeza que não são tão importantes como querem fazer crer.
É comum se ouvir que isso e aquilo “está no nosso programa de governo”. Papel aceita tudo mesmo. Pelo que consta neles, suíços e noruegueses morreriam de inveja dos brasileiros.
Mas essas previsões programáticas deveriam ser mais bem analisadas pelos especialistas. A maioria dos que prometem nos seus escritos já são políticos há décadas e já têm um histórico de promessas descumpridas. Pelo que me lembro, Dilma garantiu 6 mil creches na campanha anterior. De vez em quando se falava quantas tinham sido construídas. Agora nas campanhas nem são lembradas. Parece ser proibido falar disso.
Geraldo Alckmin está no comando do estado de São Paulo desde 2001 e, com a naturalidade de uma debutante, faz várias promessas na sua campanha eleitoral. Nem a maior crise de abastecimento de água de sua história faz arrefecer a sanha de promessas do candidato, eterno governador.
Num comício no Nordeste eles prometem acabar a transposição do rio São Francisco que ninguém mais sabe a quantas anda. Assim, promete-se resolver todos os problemas de cada região, de cada grupo social, de cada comunidade e até de pessoas individualmente.
Não ponderam nem com relação às possíveis contradições. São capazes de prometer aos evangélicos que vão retirar todos os símbolos católicos de instituições públicas e, ao mesmo tempo, são capazes de garantir aos católicos não só a manutenção, como até a ampliação.
Todos são unânimes em defender implicitamente o direito à igualdade entre as pessoas, como se tivesse força para fazer algo contrário às regras constitucionais, mas ninguém defende o casamento entre pessoas do mesmo sexo de forma explícita. Colocam a matreira conversa de que são favoráveis à união estável, ao direito de herança dos bens, mas nunca a favor do matrimônio clara e objetivamente.
Outro exemplo crasso é dizer que vai diminuir carga tributária e aumentar a arrecadação. E não há quem questione com veemência essas contradições. Quando se procede dessa maneira, como fez os âncoras do Jornal Nacional, causa estranheza nas pessoas, indignação nos correligionários e expressões raivosas nos entrevistados.
Quando já foi prefeito, governador, presidente, quem já exerceu vários cargos e se candidata pela milésima vez, em qualquer outro lugar do mundo, não teria mais o direito de prometer. A cada promessa perderia alguns votos. Isso poderia ser feito pelos novatos.
Enaltecer o que está em programas é tão descompromissado e ingênuo quanto quem vota pelo que neles está escrito. Papel aceita tudo e não há prova maior do que as próprias leis que são letras mortas neste país e os programas de governo que são verdadeiros abortos prévios.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Início do trabalho de Dunga

Início do trabalho de Dunga
Certa vez escrevi que o voto mais caro do Brasil é o do presidente da República. À época, Lula saíra de Brasília somente para apertar uma tecla em São Paulo. Votou e voltou. Ninguém escreveu uma linha sobre quanto custou esse voto à sociedade.
Algo similar acontece com o anúncio da lista de convocados da seleção brasileira de futebol. Nesse caso, o dinheiro é privado. Nem por isso deixa de ser uma bizarrice gastar tanto sem nenhuma necessidade.
Os treinadores, atualmente radicados no Rio Grande do Sul, saem de suas casas, pegam avião e vão à sede da Confederação Brasileira de Futebol, no Rio de Janeiro, apenas para ler uma lista de nomes e conceder uma entrevista coletiva enfadonha para dar pancadas nos repórteres. Isso, quando se poderia apenas disponibilizar a relação no sítio da entidade na internet.
Fica por aqui a comparação. Daí por diante, cada um começa a sua falácia. A deste ensaio é a seleção e seus eternos “inícios de trabalho”.
Depois de milhares de quilômetros para ler uma lista, os convocados se reúnem num hotel de luxo. Uns dois ou três “rachões” coletivos são realizados, escolhe-se aleatoriamente os onze titulares e vão à cata de dólares para os cofres da Confederação.
Ao se aproximar as competições mais importantes, os portões e o aprisionamento dos atletas tornam-se as etapas indispensáveis ao sucesso do “trabalho”. Talvez a estratégia sirva para esconder que nada de prático efetivamente foi feito. Definem-se também quais os bonés, calçados, cortes de cabelo são permitidos.
Imprensa, treinadores, jogadores nunca sabem quais são as razões verdadeiras dos fracassos, porque não discutem antes. Uma Copa é perdida porque os atletas fazem o que querem; outra, porque não sabiam sequer cantar o Hino Nacional; depois, porque disputavam quem gritava mais alto. Tudo tolices infantis que passam ao largo das verdadeiras razões.
Falta de treino tático, de investimento em todo o território para descobrir e selecionar atletas; falta de seriedade em alguns momentos antes e durante os jogos.
Deve-se exigir que parem com aqueles passes laterais e improdutivos substituindo-os por outros em profundidade, para frente, mesmo que incidam mais em erros.
Treinar triangulações e deslocamentos. Atletas brasileiros nem buscam nem passam a bola em espaços livres. Proibir de passarem a bola para colegas em impedimento, e estes treinarem um dia inteiro para perceberem quando estão avançados.
Nada disso é feito nem exigido pela mídia brasileira, tão despreparada quanto os atletas. O novo treinador vai continuar gastando dinheiro, tempo e energia para vir ler uma lista no Rio, vai entregar coletes para fazer coletivos, escalar onze, que poderiam ser os outros que ficaram no banco ou de fora da convocação, já que há nenhum critério e continuar a história de que está desenvolvendo um trabalho de quatro anos para levar de sete da Alemanha.
Claro que não poderia faltar o oba-oba dos globais, liderados pelo mais conhecido deles. A vantagem de Dunga é que não dá a contrapartida da exclusividade, uma grande virtude do atual treinador.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Helcio Hime


Os Musicais

“FranKamente Sinatra” e “Elvis, Cantado & Contado” são musicais que contam a História dos mais importantes ídolos da música do século XX trazendo seus maiores sucessos reinterpretados Ao Vivo de forma arrebatadora por uma das mais belas vozes do século XXI!
Altamente Inovadores, fáceis de montar, geram muita mídia, Lotam onde se apresentam, e o Público Ama!
Revelam os verdadeiros Homens por trás dos Mitos, seus amores, temores, suas vidas interessantíssimas e super atribuladas, repletas de episódios curiosos e surpreendentes.
FranKamente Sinatra
Helcio Hime conta “Causos” incríveis sobre a vida de Frank Sinatra, o primeiro ídolo popular da história da música! Epsódios envolvendo celebridades como Marilyn Monroe, Presidentes Americanos, Paixões Avassaladoras, Chefões da Máfia e muito mais…
Alguns dos Grandes Sucessos fabulosamente cantados ao vivo neste aclamadíssimo espetáculo: “My Way”, “Strangers in the Night”, “Night and Day”, “Fly me to the Moon”, “Hello Dolly”, “Let me Try Again”, “All the Way”, “I´ve Got You under my Skin”, “The Girl from Ipanema”, “New York, New York” além de muitos outros hits.
Elvis, Cantado & Contado
Neste emocionantíssimo show, Helcio Hime conta histórias sensacionais sobre Elvis Presley e a forma como este grande ídolo revolucionou o mundo, criando o Rock N´ Roll e pela primeira vez na história dando voz à juventude. Os presentes inusitados que gostava de dar, curiosidades fantásticas, sua profunda religiosidade, as excentricidades, e seus vários estilos de música que passam por todos os gêneros .
Mega Sucessos são magistralemtne reinterpretados ao Vivo: “My Way” (onde Hime sustenta um incrível "Dó de Peito" por mais de 12 segundos), “Love me Tender” (ao Violão, emocionando a plateia), “That´s all Right Mama” (primeiro Rock de todos os tempos), Amazing Grace (mais famoso hino religioso de todos os tempos), “Suspicious Minds”, “Don´t Be Cruel”, “Can´t Help Falling in Love with You”, “America the Beautiful”, “You´ve Lost That Loving Feeling”, “Unchained Melody” (a música do filme Ghost que Hime faz tocando Piano), “Heartbreak Hotel” e muito mais!

 HELCIO HIME:
O Início da carreira meteórica de Helcio Hime como cantor ocorreu há pouco mais de 1 ano, em noite de Gala no Copacabana Palace, um dos mais prestigiosos palcos do mundo, com musical de sua autoria “Elvis Presley, Cantado & Contado”, sendo sucesso absoluto com imensa repercussão na mídia. Desde então tem se apresentado também com o show “FranKamente Sinatra” em locais como World Trade Center de São Paulo, Sheraton, Mon Plaisir, Pink Elephant, Estádio do SESC, novamente o Copacabana Palace, além de outros palcos de grande prestígio.
Lotou a Miranda, uma das maiores e mais prestigiosas casas de show do país.
Imenso sucesso também no Teatro Rival Petrobras (um dos mais tradicionais palcos cariocas com 80 anos de História)
Já está convidado para fazer a grande temporada de reinauguração do Miami Grand Theater, no Playboy Club (um dos mais importantes palcos dos Estados Unidos, onde cantaram ao vivo ninguém menos que Frank Sinatra e Elvis Presley) e apresentações em Cassinos de Macau e Las Vegas.
As histórias que HIME conta entre as músicas são um show em si: curiosas, divertidas, interessantíssimas! Além de um excelente divertimento é CULTURA pura! A interação com a plateia é total! Como Hime é poliglota, a parte falada do show pode ser feita em Inglês, Francês, Espanhol, Italiano ou Português.
Além de cantor de fortíssima presença cênica, HELCIO HIME é um artista, palestrante e empresário completo, também dança, atua, compõe, toca violão, piano, escreve, pinta e esculpe.
Ingressou na vida artística aos 8 anos ao fazer o seu primeiro papel na Rede
Globo. Fundou sua empresa aos 16 anos de idade (hoje uma das mais premiadas empresas de tecnologia do país).
Participa de diversas novelas da televisão, longa-metragens, mini-séries e peças de teatro.
Helcio Hime é o criador do conceito do “Stand-Up Musical”, onde um mesmo artista assina o texto, produz, canta, toca instrumentos, dança, atua e dirige.
Ganhador de vários prêmios, como a Homenagem Renato Russo de Ousadia e Arte e o prêmio de Literatura Hans Christian Andersen (do Governo Dinamarquês e da Academia Brasileira de Letras).
HELCIO HIME conquista o público a cada apresentação, arrebatando sorrisos, suspiros e lágrimas de sua plateia com toda emoção que transmite em seus shows.
O plateia se enriquece com o melhor da música e cultura.

OUTROS STAND-UP MUSICAIS DE HELCIO HIME:
HELCIO HIME in Concert
ELVIS PRESLEY, Cantado & Contado
FranKamente Sinatra
Elvis Sinatra – Os dois maiores cantores do século XX 
Música Francesa
Pérolas da Música Brasileira 
Origem do Rock N´ Roll 
Beginnings of American GOSPEL 
Good BROADWAY to You 
Sertanejo Americano – Country 
Jazz, Blues, Bossa Nova
Tangos de Gardel
Fado – Viva a música Portuguesa
Show Autoral (repertório próprio) 
Repertório sob-encomenda

Sites:
Frankamente Sinatra: 

Elvis, Cantado & Contado: 

Site Oficial do Artista: 

Contatos:
Telefones:
+ (55) (21) 2548-3508
+ (55) (21) 98881-4565 oi
+ (55) (21) 99617-6886 tim

E-mails:
qualidade@melhorainda.com.br

show@hime.com.br

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Primeiros passos para a delinquência...

Primeiros passos para a delinquência...
Como se formam os conceitos a gente nunca sabe ao certo. Conceito se constitui, não vem pronto. Perdurou, no Brasil, um tratamento às crianças como se fossem pessoas secundárias ou que não merecessem atenção. Por longo tempo, os relatos de agressões eram constantes, com surras impiedosas. Até hoje a criançada sofre nas mãos de alguns pais sem escrúpulos. Mas, antes, a sociedade aceitava com tranquilidade que os pais massacrassem seus pupilos, sem nenhum direito à reação, em nome do inquestionável pátrio poder.
Com a recente aprovação da chamada lei da palmada, a discussão sobre a agressão de pais voltou à tona, com grande parte defendendo esse direito. Para amenizar, passaram a chamar palmadinha. Qualquer tapinha, palmadinha é agressão; é violência. Ponto.
Com o passar do tempo, os pais mudaram da agressividade selvagem para a permissividade banal aos filhos. Foi uma longa caminhada de erros, compensações e muitas distorções.
Tornou-se clichê a frase "quero dar aos filhos tudo que os meus não me deram ou não tive". Também virou ditado popular a frase "não tenho um pai, tenho um amigo". Ótimo, não fossem relações diferentes. Por princípio, um bom pai necessariamente é um bom amigo. Quase sempre o desempenho desses papéis devem ser separados.
Houve tanta confusão nessa transição que o amigo se tornou sinônimo de cupincha, e o pai passou a ser pau-mandado.
O pai que obrigava o filho a ir à escola, agora deixa ir quando quer; deixou de exigir o respeito aos mais velhos – para a maioria, os mais novos não precisam de respeito; deixou a criançada substituir o senhor e a senhora por meu "veio" e minha "veia". Isoladamente, tratamento é secundário, mas é fundamental no conjunto da formação.
Estudar deve ser encarado como obrigação natural, sem as opções "querer ou deixar de querer". Não um convencimento meloso ou melancólico. Mas um trabalho voltado a valorizar o estudo e a aprendizagem desde criancinha. A criança se convenciona a ir ao colégio, assim como se escova os dentes, toma banho, sem o gostar ou desgostar.
Quando os pais, para serem amigos, deixam os filhos substituírem a escola pela rua, o dever pelo "videogame"; estão a caminho da conclusão dessa narrativa. Caso parem por aqui, formarão filhos mimados, sem referências, mal-educados, pessoas apenas desagradáveis. Somando-se outros poucos ingredientes, a delinquência está a um passo.
A essa altura os pais já estão totalmente dominados, a família logo será, os vizinhos se tornam incômodos e a gana de subjugar o mundo se torna a meta do bebê mimado. Nesse ponto a árvore está pronta, o caminho são as desculpas, as justificativas, a alegação de que deu tudo, mas se esqueceu de dar formação, o principal erro.
Como todo mundo tem acesso à internet, podem consultar alguns comportamentos que, em regra, intitulam de "como criar um delinquente". E sobre as diferenças de formação de filhos, o livro "Crianças francesas não fazem manha".


Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Copiar o que é bom

Copiar o que é bom

Muitas mentiras de tanto repeti-las ela se tornam verdades. Uma delas é a de que a cidadania é exercida pelo voto, sem mencionar que isolado não ajuda muito e a prova são os sucessivos governos ruins. Também não se menciona que a principal característica de democracia é a liberdade de escolha, o que não ocorre no Brasil, onde ainda é obrigatório votar. O politizado Carlinhos Brown é agora o condutor dessa “verdade” mentirosa.
Outra inversão da realidade foi se consolidar um pensamento de que tudo que um adversário realiza não serve ao governo da ocasião. Por conta desse raciocínio primitivo, nenhum governo dá seguimento ao trabalho do outro e quando utiliza, uma maquiagem é feita para parecer ser dele, ou muda de nome.
Não precisa de genialidade para afirmar que as boas iniciativas não só deveriam ser mantidas pelos sucessores como copiadas pelos demais. E claro que existem algumas que nunca deveriam ser praticadas.
Alguns exemplos que deveriam ser seguidos por todos. A criação do cartão magnético – Bilhete Único - para passageiros pela ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Agilizou a entrada nos ônibus e evitou muitas mortes de cobradores, condutores e até de passageiros em assaltos, já que o dinheiro praticamente sumiu das gavetas dos coletivos. Quem copiou, acertou; quem ainda não o fez, já há muito deveria ter aderido.
As tão criticadas bolsas de auxílio gerou uma grita só. Depois que perceberam o acerto, como em todas as iniciativas, todos passaram a reivindicar a paternidade da criança. Uns dizem que começou em Campinas, outros, em Goiás. O certo é que colou como chiclete e nenhum governo consegue mais retirar. É preciso apenas criar algumas contrapartidas, pois esse é seu principal equívoco. 
Não sei se Paulo Maluf já pode sair do Brasil sem o risco de ser preso. Mas criou o cinto de segurança, inicialmente considerada uma verdadeira aberração, “típica de Maluf”. Alguns erros de gestão não merecem nenhuma compensação, mas se existisse, por essa iniciativa e pelas vidas salvas, Maluf teria uma “dívida” bem menor junto à sociedade brasileira.
José Serra peitou os laboratórios farmacêuticos e instituiu os remédios genéricos. Em São Paulo, proibiu fumar em lugares fechados e de grande circulação de pedestres. E até o polêmico ex-presidente Fernando Collor instituiu de vez no Brasil o seguro-desemprego.
Pela linha inversa, os aluguéis de imóveis e de automóveis deveriam ser evitados por todos. Entretanto, tornaram-se a principal farra e meio de cooptação de eleitores, especialmente nas prefeituras de cidades pequenas.
E muitos contratos de preservação, cuja manutenção se torna mais cara do que o próprio objeto, bem como de empresas para servirem cafezinho em gabinetes jamais deveriam existir nem ser copiados. Quem pesquisar constatará que os gastos de órgãos federais com garçons dariam para equipar um, ou mais, hospital por mês.
Diferente do contexto dito por um ministro, não basta mostrar o que é bom, é preciso copiar sem maquiagem, culpa ou mudança de nome. 

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
   Bacharel em direito 

sábado, 23 de agosto de 2014

Igualdade entre desiguais

Igualdade entre desiguais

De dois em dois anos, discute-se muito a participação e exercício da cidadania, restringindo-os ao comparecimento no dia da eleição para apertar uma tecla para tornar alguém prefeito, parlamentar e até presidente da República. Nada é mais mentiroso do que essa pregação, feita propositalmente pela maioria para manter cidadãos mansos, com o objetivo evidente de preservar a mamata das chamadas elites, visto que a distorção não fica nisso.
No próprio processo eleitoral aparecem outras disparidades. No horário eleitoral gratuito se respeita a proporcionalidade, em respeito à representatividade de cada partido junto às casas legislativas.
Nas demais formas de debater as ideias e os projetos a igualdade é absoluta entre um partido grande e os chamados nanicos, muitas vezes acusados de siglas de aluguel, exatamente por se aliarem para favorecerem a outras agremiações com seus segundos no horário eleitoral gratuito.
Quando uma emissora de televisão, de rádio, site, jornal faz uma entrevista com um candidato a posto executivo, o mesmo tempo e formato deve ser concedido de forma literal e igualitária a todos.
Ora, nada é mais evidente de que o interesse da sociedade nos candidatos das grandes agremiações não corresponde aos das nanicas.
Pode-se alegar que as mídias são concessões públicas. Não é o bastante, pois se deveria discutir por que precisa ser concessão pública uma empresa que gera ou transmite imagens, sons e caracteres. Isso já é uma forma aberta, escancarada, de interferência do Poder Público sobre os particulares.
Caso se considere ser a importância da atividade, muito mais são a educação, segurança e saúde, e a parte funcional dessas três está na iniciativa privada.
Nada deveria ser mais igual do que a Justiça. Recentemente, até para se tornar um pouco funcional, o Supremo Tribunal Federal passou a aceitar recursos se forem considerados de interesse geral da sociedade, de uma gama substancial de pessoas que, juridicamente, chamam-na de repercussão geral.
 Outra disparidade nas interpretações exóticas da Justiça é que um candidato ao mesmo cargo pode continuar em pleno exercício de sua atividade. Se o presidente da República se candidatar a vereador é obrigado a se afastar seis meses antes da eleição, mas se for para concorrer à Presidência continua presidente e candidato. Na sua leiga opinião, como a minha, quem poderia influenciar mais?
Toda igualdade no ramo do direito só é considerada justa se respeitar a proporcionalidade. Muitos juristas enchem a boca para pronunciar “a igualdade na proporção da desigualdade”. Exemplificando: especialmente entre adolescentes, mas em qualquer idade, toda vez que dois ou três brigam contra um é uma injustiça tremenda. Justo são dois contra dois, três contra três. Já se esse “um” fosse o Mike Tyson, não se teria ideia de quantos comuns seriam necessários para se alcançar uma igualdade.
Portanto, nada é mais desigual do que obrigar a mídia a conceder horário, espaço e até entrevistar quem gera efetivo interesse nacional com alguns que todos desconhecem os reais motivos da participação. Porque, definitivamente, concorrentes não são. A responsabilidade de torná-los grandes não é da mídia. Só para fechar o ciclo de justificativas inconsistentes.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
  Bacharel em direito

sábado, 16 de agosto de 2014

Emails não autorizados

Emails não autorizados

Hoje, as redes sociais fazem parte do cotidiano de um grande número de pessoas, talvez já da maioria dos brasileiros.
Cada um que utilizá-las ao seu modo, como em tudo na vida, quer ditar aos demais a sua maneira como a mais útil, a mais correta.  
Todos são democráticos, bons, éticos, inteligentes. Invejados demais. Nossa! Como somos invejados. Não importa se no manual venha escrito “para mim faser” tal coisa. O negócio é distribuir manuais de conduta.
Nelas, o princípio mais difundido é o da democracia. O da liberdade de expressão também é defendido, mas a cobrança maior é pelo da privacidade.
Aí o bicho pega! “tem gente que fica bisbilhotando meu perfil!” Não gosto de postagens de quem não conheço. O cidadão só esquece que se entrou na rede e não bloqueou os estranhos, qualquer um pode acessar e escrever em seus perfis. São públicos, se deixaram para todos; ou são públicos para os amigos que eles permitiram. E se o perfil não tiver acesso nem for público para alguém... Aí, o titular tem que procurar um psicólogo.
Esse é o ponto de uma pequena reflexão. Quem expõe alguns pontos de vista quer que eles cheguem ao máximo possível de pessoas. E grande parte é de leigos, que não tem televisão, rádio, nem de espaço em jornais e revistas semanais. Sobram os e-mails disponíveis nas redes sociais.
Geralmente, esses contatos são copiados de espaço do leitor em jornal, de programas de televisão ou de rádio; da mídia. Ele é só um endereço, mesmo que eletrônico.
Qualquer pessoa sabe onde está numa cidade pelo nome que o logradouro tiver. Alguns ficam até muito famosos. Outros são expostos pela importância. E ainda resistem até listas de papel que trazem esses endereços e numeração. Hoje prevalecem os eletrônicos.
Se algo desperta a sua atenção num determinado endereço, a pessoa pode anotar o nome da rua, número e encaminhar tranquilamente uma correspondência. Nada impede, e não parece claro, de pronto, de que se configure algum delito ou ofensa moral só pelo envio. Do que estiver escrito nessa mensagem, aí já está se encaminhando para outros quilômetros, outra fase, outra matéria.
Será que fui claro? Já disse que o e-mail é um endereço. Mas precisava dizer? E que qualquer pessoa pode anotar um endereço e encaminhar uma correspondência. Precisaria afirmar isso também?
Claro que são necessários esses esclarecimentos. Ao menos para quem se expõe em redes sociais e reclama de quem acessa, “bisbilhota” seu perfil. Para quem coloca seus contatos em jornais de grande circulação, em televisão de âmbito nacional e pergunta de onde nos conhecemos e quando ele autorizou a outra pessoa a mandar mensagens para ele.
Tenho dúvida – e muita! – se a permanência do envio de mensagens não autorizadas configure alguma transgressão apenas quando o titular solicita que não as envie. Pois, uma pessoa só pode exigir que a outra não faça algo quando há respaldo em lei. Pode ser só por desconhecimento meu de alguma lei ou entendimento jurídico que proíba o envio de uma correspondência a alguém. O conteúdo já é outra história. Por respeitar a predominância da vontade, retiro o e-mail imediatamente de todos que solicitam. Até dos ameaçadores...
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito

domingo, 10 de agosto de 2014

Nada de novo nas campanhas


Nada de novo nas campanhas

Há uma crítica difundida pela mídia e formadores de opinião de que o eleitor é o responsável pelos maus administradores que elegem. Numa visão rápida e superficial, está correto; numa análise mais profunda, nada mais errado.
Os eleitores são obrigados a votar e precisam primeiro participar de política por opção. Erro no pontapé inicial. O voto facultativo é imperativo da lógica da democracia.
Depois, não há vivência nem participação no processo de escolha dos candidatos. Em 1986, fiz um trabalho para provar a importância do voto numa boa escolha e também uma comparação com cobras venenosas.
Adquiri várias serpentes de plástico e a cada uma atribuí o nome de um candidato a governador em São Paulo. Fiz um círculo e coloquei um sapo no centro. O dia da eleição seria o dia que esse sapo teria que sair do cerco. Só escolheria o veneno com que morreria. Quércia era a cascavel e foi eleita.
Nova eleição se aproxima e as críticas recaem sobre a dicotomia entre a insatisfação generalizada do eleitor e a manutenção dos mesmos políticos. Não faz diferença para o eleitor trocar uma cobra por outra. Vai ser fatal com qualquer uma.
Todos os governos novatos colocam a culpa nos anteriores. No governo federal há 12 anos, o pessoal do Partido dos Trabalhadores ainda não fica corado ao comparar as suas mazelas com as do governo de Fernando Henrique Cardoso. O mesmo ocorre com o Partido da Social Democracia Brasileira em São Paulo.
Basta exemplificar com o aumento estrondoso recente da violência no Brasil inteiro, inclusive em São Paulo, onde o PSDB está há 20 anos. Como no Brasil o menor de idade não pode ser considerado bandido, todo delinquente até 38 anos é cria desse Partido. Insinuam que não têm nada a ver com a falta d’água nos reservatórios e negam a falta, quando em toda parte falta uma gota nas torneiras.
Aécio Neves governou Minas Gerais por 8 anos e elegeu seu sucessor. Segundo o noticiário, sua prioridade número um fora a construção de aeroportos. Um deles em terra de parente muito próximo, em Claudio, cidade na qual a família ainda tem seus laços. Passou mais de 15 dias para assumir ter cometido o erro de utilizá-lo ainda sem licença de funcionamento. Mas a crítica se restringe a só ter vindo à tona agora, anos-luz depois de construído, quando sua ascensão nas pesquisas assusta o camarote de novo mandato presidencial.
No Rio de Janeiro, as favelas pacificadas são um desastre. No Nordeste inteiro a violência consegue deixar cariocas e paulistanos assombrados.
No âmbito federal, o Tribunal de Contas da União – TCU apontou responsabilidade dos conselheiros da Petrobras na compra de Pasadena, mas não a presidente do mesmo conselho. Isso significa que se a presidente Dilma Rousseff fosse apenas conselheira poderia ter sido punida, mas como era “apenas” a presidente, não teve nenhuma responsabilidade.
Estas citações servem apenas para reforçar que o eleitor não é responsável direto pelos maus políticos por não ter participação no processo de escolha. Os candidatos são um verdadeiro PF, o famoso prato feito. Vem prontinho; é só degustar.
Depois, serve para afirmar que a política de culpar os anteriores cometendo os mesmos erros carimba o entendimento do eleitor de que não adianta mudar. Qualquer mudança é mais um prato feito. A sobremesa é o horário gratuito mais caro do mundo recheado de clichês de candidatos ou de promessas de realizar o que já tiveram décadas para fazer e não fizeram.
Nada é mais elucidativo para manter uma clientela gigante de defensores do voto obrigatório.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
    Bacharel em direito