Em 2006 ninguém soube a razão do encerramento da matança deliberada de agentes da segurança pública do estado de São Paulo pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital - PCC, pois o fim daquela guerra urbana ocorreu de forma instantânea, sem nenhuma ação do governo que o justificasse. Para o governo foi resultado de sua eficiência; para o cidadão comum, foi acordo muito vantajoso para a organização criminosa. Nenhuma das partes assume claramente nenhuma das versões, assim como não é citada qualquer outra.
Todo o noticiário limita-se aos ataques e ao número de mortos, o que é compreensível por ser a vida o bem maior. Mas é preciso ampliar o debate para apontar os prejuízos financeiros decorrentes da paralisação, já que naquele ano a cidade inteiramente parada por dois dias. Os ataques foram tão intensos que até diminuíram os crimes cotidianos como furtos, roubos e assassinatos “regulares”, devido à falta de pessoas nas ruas. Foi enigmático uma imagem de um repórter de televisão sentado literalmente no meio da avenida Paulista num dos horários de rush.
Já os especialistas em segurança dão verdadeiras aulas de como evitar riscos individuais. Ensinam que o cidadão deve ficar alerta, que não pode namorar no carro, que não deve parar em ruas movimentadas, muito menos em ruas desertas, que antes de se aproximar da garagem deve olhar se tem algum elemento estranho por perto, se tem pedestre na rua. Eles não têm uma só palavra dirigida às autoridades para cumprirem seus deveres institucionais de evitar os assaltos e furtos.
Ninguém sabe ao certo por que o PCC consegue atacar quando e como quer, além de conseguir matar quantos agentes de segurança desejar. Tornaram-se clichês as soluções apontadas pelas autoridades, sendo o mais comum a justificativa de que se trata de uma reação a determinada ação forte do governo. A razão deste ataque atual seria a morte de seis integrantes do PCC pela Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar – ROTA, um pelotão especializado da Polícia Militar paulista. Ora, se o governo só vai perder policiais, seria melhor se omitir a contabilizar policiais mortos.
Somente durante os ataques são vistos policiais nas ruas de São Paulo. Fora dessas épocas, o cidadão atravessa a cidade de um extremo a outro sem ver um só policial. Caberia ao cidadão indagar aos seus respectivos governos estaduais o porquê de só agirem em represália; perguntar quais são as ações diárias para prevenir a criminalidade, que só tem crescido no Brasil. As respostas serão uníssonas em afirmar que “todas as medidas estão sendo tomadas”. Mesmo com mais de quarenta mil assassinatos todo ano, as autoridades brasileiras nunca assumem que as medidas não têm trazido resultados efetivos. Além disso, é de conhecimento público que é a corrupção policial o principal combustível a alimentar a marginalidade, comprovado, principalmente, pela quantidade de delinquentes presos depois de várias passagens pela polícia. Caberia uma investigação toda vez que houvesse somente passagem pela polícia sem chegar ao Ministério Público e à Justiça.
Por enquanto ainda não há apoio da sociedade a esses ataques, que viria inevitavelmente caso o PCC passasse a associar suas ações criminosas a represália a atos de corrupção e atacasse sedes dos governos estadual e municipais, câmaras municipais e assembleias legislativas. Corre risco de apoio popular maciço caso a organização passe a assassinar políticos acusados de corrupção. Daí em diante o passo seria curtíssimo para o Brasil possuir de fato um grupo paramilitar como o ETA, Espanha, as FARCs, Colômbia, ou o Sendero Luminoso, Peru. Toda a sociedade pagará pelo que não deve por conta da omissão das autoridades, que ao invés de combaterem a criminalidade diariamente, inventam desculpas repetidas.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito