Assim como falavam de que se sabe como começam, mas não como terminam as Comissões Parlamentares de Inquérito da Câmara dos Deputados e do Senado, as relações promíscuas de autoridades começam sempre pelo desconhecimento absoluto dos citados, passam lembranças de encontros, almoços e passeios casuais e terminam com a comprovação de recebimento de presentes, viagens em aviões emprestados, compras e muito, mas muito, dinheiro envolvido para ambos os lados. Depois vêm as gravações e os desmentidos.
Com o governador de Goiás a história se repete. Mas o senhor aparece numa foto com ele; mas político abraça todo mundo. Apareceu uma gravação do senhor com ele. O político atende ao telefonema de qualquer um. É só qualquer um ligar... Mas o senhor apareceu numa fita de vídeo almoçando com ele. Foi um almoço patrocinado por um assessor, um amigo empresário... E essas denúncias sempre terminam com a alegação de que as frases são descontextualizadas. Não há uma contra-argumentação na imprensa de que as frases sejam completas e dispensem os tais contextos.
Como regra todas as negociações comerciais ocorrem por meio de contrato de compra e venda. Parece que casa de governador se vende de forma diferente. Agora, batem cabeça porque quem vendeu o fez por um valor, e quem comprou pagou outro bem mais alto. Seria tão simples se o governador apresentasse o contrato, pois não se imagina que tenha vendido uma casa pela ínfima quantia de milhões apenas na palavra, sem nenhum documento.
Tudo isso ocorre por culpa da passividade da sociedade. A sociedade brasileira passa por um momento de absoluta acomodação, com manifestação apenas virtual, e até essa sem muita ênfase. Já os representantes do Congresso na CPI nem sequer são capazes de apontar essas inconsistências absurdas. Os sites do governo e da Assembleia Legislativa de Goiás deveriam ter sido emperrados de mensagens, fossem favoráveis ou contrárias. Apesar da inércia social, os integrantes da CPI não deveriam menosprezar a inteligência do povo e deveriam exigir apenas a apresentação do documento de compra e venda.
O andar de cima ainda faz o que bem entende neste país e, apesar de já ser alcançado pela Polícia Federal, continua intocável pelo Ministério Público e pelas várias Justiças brasileiras. Os casos de corrupção que derrubaram vários ministros recentemente comprovam fartamente essa impunidade absoluta.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
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