Nos anos 70 era comum a expressão jogador a nível de seleção brasileira. Isso significava que o jogador vinha atuando bem em seu clube por um longo período. Para ir à seleção já havia uma confirmação de que se tratava de um jogador acima da média clubística. Deveria haver um certo consenso na imprensa em defesa de sua convocação. Havia divergências e nunca deixará de haver com relação a alguns convocados, especialmente entre o bairrismo explícito entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Discordância restrita a poucos jornalistas mais sectários.
Todo treinador da seleção brasileira teve uma convocação que desagradou à unanimidade. Com Cláudio Coutinho foi a improvisação de Edinho na lateral esquerda na Copa de 78. Telê Santana teve a unanimidade adversa com a convocação do centroavante César do Vasco da Gama para alguns amistosos. Daí por diante a insatisfação foi crescendo até ficar indefinida na quantidade de jogadores com reprovação total. E acabou-se a necessidade de um bom desempenho, com regularidade, por um período maior. Virou rotina um jogador ser convocado para a seleção e em poucos dias está na reserva de seu clube.
Por conta da convocação de qualquer um, todo perneta hoje é ex-jogador da seleção brasileira. Não existe mais a diferença técnica entre o jogador de seleção dos demais. Com duas boas atuações por seus clubes tornam-se unanimidade para a seleção.
Mas a convocação de reservas já aconteceu, mas naqueles clubes com quase todos os jogadores de seleção, como o time dos sonhos do Real Madrid. Parece ter ocorrido com um médio-volante chamado Vítor, então reserva de Andrade no Flamengo do início da década de 80. Eram casos isolados, que virou regra. Mas Mano Menezes exagerou agora com a convocação de Kaká.
Antes, faz-se necessário afirmar que Mano Menezes vem superando todas as regras como técnico da seleção brasileira. Nunca antes na história deste país um treinador foi tão defendido pela mídia com um desempenho abaixo da crítica.
Mano Menezes veio depois da pioneira recusa de Muricy Ramalho. Iniciou sua fase oficial com uma das piores campanhas na Copa América, sendo desclassificada numa pioneira perda de todos os pênaltis. Mas quem perde pênalti são os jogadores dizem os comentaristas de mão única. No Brasil o treinador só é responsável pelo “bom trabalho”; pelos rebaixamentos, só os jogadores. Treinador não entra em campo, dizem outros. Supõe-se não entrar também quando vence. Na sua sequência de derrotas, recentemente perdeu a medalha de ouro da Olimpíada de Londres. Teve um desempenho melhor do que Dunga, mas nunca antes uma seleção foi tão favorecida pela arbitragem contra adversários fracos. E perdeu até a maioria dos amistosos contra grandes seleções e ainda não venceu nenhuma. Venceu apenas a “boliviana” Argentina com os jogadores que atuam no país.
Juca Kfouri, com a conhecida coerência de corinthiano roxo, já colocou que Mano Menezes pode perder tudo e ganhar somente a Copa, uma antítese de Dunga, que ganhou tudo, menos a Copa. Esqueceu da Olimpíada. Não é exagero supor que um grande mistério segura Mano Menezes, já que ganhar tudo antes sempre foi o que levou os técnicos até as Copas. E com base nessa segurança, ele coroou sua incoerência como treinador ao convocar Kaká, um treineiro de luxo do Real Madrid. Seria hora de o deputado Romário explicar mais essa.
Dentre os defensores da convocação de Kaká, o argumento é que a seleção precisa ficar mais velha. Como assim? Velhice sempre foi a justificativa para se defender as reformulações ou para justificar as derrotas. Não especificam qual as vantagens advindas da velhice. Tem mais. Kaká ficou dois anos totalmente esquecido. A maioria dos jornalistas concordava devido a seu mal desempenho no clube. Sem nenhuma explicação plausível, agora que mal treina na agremiação, ele passou a ser a esperança brasileira. Isso só a “imunidade parlamentar” de Romário pode explicar.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito
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